
A mamoplastia de aumento e a mastopexia com implantes estão entre as cirurgias plásticas mais realizadas em todo o mundo, proporcionando a muitas mulheres um aumento na autoestima e satisfação com o contorno corporal. No entanto, é importante compreender que, como qualquer procedimento cirúrgico, especialmente aqueles que envolvem implantes, estas cirurgias não estão isentas de possíveis complicações ou da necessidade de revisão ao longo do tempo.
Fatores como as alterações naturais do corpo (envelhecimento, variações de peso, gravidez), a interação do organismo com os implantes, ou simplesmente a mudança no seu desejo estético podem levar à indicação de uma mamoplastia secundária, especificamente para a troca ou remoção dos implantes mamários.
A mamoplastia secundária, também conhecida como cirurgia de revisão mamária, é um procedimento mais complexo que a cirurgia primária. Ela exige do cirurgião plástico um conhecimento aprofundado não apenas das técnicas de mamoplastia, mas também da fisiopatologia das complicações associadas aos implantes e das estratégias para corrigi-las.
O objetivo desta cirurgia vai além da simples troca de próteses: busca-se restaurar a harmonia estética das mamas, corrigir deformidades, tratar complicações e, fundamentalmente, atender às suas novas expectativas, visando um resultado natural, seguro e duradouro.
Vou abordar em detalhe as principais alterações e complicações que podem motivar uma mamoplastia secundária, analisando suas características e as possibilidades de tratamento disponíveis.
A deformidade de animação, também conhecida como deformidade dinâmica, é uma alteração que se manifesta quando você contrai o músculo peitoral maior, em situações em que o implante está posicionado abaixo dele. Caracteriza-se por uma distorção visível da mama durante a contração muscular: o implante pode ser deslocado para cima ou para o lado, a mama pode achatar-se ou apresentar contornos irregulares que não são evidentes quando o músculo está relaxado.
Esta condição é mais frequente em pacientes com implantes posicionados total ou parcialmente sob o músculo peitoral (plano submuscular ou dual plane), especialmente em mulheres magras, com pouca cobertura de tecido subcutâneo, ou atletas que utilizam intensamente esta musculatura.
O tratamento visa reduzir ou eliminar a interação indesejada entre o músculo e o implante. As abordagens podem incluir:
✔️ Mudança do Plano do Implante: Reposicionar o implante para um plano mais superficial (subglandular ou subfascial). Ao remover o implante de sob o músculo, a contração muscular deixa de afetá-lo diretamente. Esta é a abordagem que costumo preferir, pois respeita a anatomia natural da mama.
✔️ Lipoenxertia: O enxerto de gordura pode ser utilizado para melhorar a cobertura dos tecidos moles sobre o implante, especialmente quando mudamos para um plano mais superficial, ajudando a camuflar as bordas do implante.
O rippling refere-se à visibilidade ou palpabilidade de ondulações ou dobras na superfície do implante através da pele. É uma complicação que afeta o contorno e a suavidade da mama, conferindo-lhe uma aparência irregular, semelhante a “ondas” ou “rugas”. Embora possa ocorrer em qualquer paciente, o rippling é mais comum em mulheres magras, com pouca cobertura de tecido mamário ou gordura subcutânea sobre o implante. Principais Causas:
➡️ Cobertura insuficiente de tecidos moles
➡️ Tipo de implante (implantes de silicone com gel de menor coesividade)
➡️ Posicionamento superficial do implante
➡️ Perda de peso significativa após a cirurgia
✔️ Mudança do Plano: Mover o implante para um plano mais profundo (submuscular) aumenta a cobertura de tecido sobre o implante.
✔️ Troca do Implante: Substituir por um implante de maior coesividade pode reduzir significativamente as ondulações.
✔️ Lipoenxertia: A adição de gordura autóloga sobre o implante aumenta a espessura da cobertura dos tecidos moles, camuflando eficazmente as ondulações. Esta é uma técnica que utilizo frequentemente, pois oferece resultados muito satisfatórios.
A contratura capsular é uma das complicações mais comuns associadas aos implantes mamários e uma causa frequente para mamoplastia secundária. Após a inserção de qualquer implante, o corpo naturalmente forma uma cápsula de tecido cicatricial ao redor dele.
Na maioria dos casos, essa cápsula é fina, macia e não causa problemas. No entanto, em algumas pacientes, essa cápsula pode se tornar excessivamente espessa, dura e contraída, apertando o implante.
Classificação de Baker:
| Grau | Características |
| Grau I | A mama parece natural e é macia ao toque (cápsula normal) |
| Grau II | A mama parece normal, mas é ligeiramente firme ao toque |
| Grau III | A mama é firme ao toque e parece anormal (distorcida, arredondada, elevada) |
| Grau IV | A mama é dura, dolorosa e apresenta distorção significativa |
Os graus III e IV geralmente indicam necessidade de tratamento cirúrgico.
O tratamento da contratura capsular clinicamente significativa (geralmente graus III e IV) é cirúrgico:
✔️ Capsulectomia: Remoção cirúrgica da cápsula fibrosa (total ou parcial)
✔️ Troca do Implante: Quase sempre necessária
✔️ Mudança do Plano: Colocar o novo implante em um ambiente tecidual diferente
✔️ Lavagem Meticulosa da Loja: Para reduzir a carga bacteriana e o risco de biofilme.
A assimetria mamária, definida como a diferença em tamanho, forma, posição da aréola ou sulco inframamário entre as duas mamas, pode ser uma queixa pré-existente que não foi totalmente corrigida na cirurgia inicial, ou pode ter se desenvolvido após o procedimento primário.
✔️ Implantes Diferentes: Selecionar implantes com volumes, projeções ou perfis diferentes para cada mama
✔️ Mastopexia Assimétrica: Aplicar técnicas de lifting de forma diferenciada em cada mama
✔️ Lipoenxertia: Ferramenta valiosa para refinar o contorno e corrigir pequenas assimetrias
✔️ Capsulorrafia: Sutura da cápsula para reduzir o tamanho da loja e reposicionar o implante
O objetivo final é alcançar a maior simetria possível, respeitando as limitações impostas pela sua anatomia individual.
O posicionamento inadequado do implante é uma causa comum de insatisfação e frequentemente motiva a busca por uma cirurgia secundária. Vou detalhar as formas mais comuns:
Perda do sulco intermamário (o espaço natural entre as mamas), com os implantes se aproximando excessivamente ou até se tocando na linha média sobre o esterno.
✔️ Tratamento: Reconstrução do sulco intermamário através de capsulorrafia medial, ajuste do plano muscular, troca de implante por um mais estreito, e lipoenxertia.
O implante migra excessivamente para o lado, criando uma distância aumentada entre as mamas e uma aparência de “mamas muito separadas”.
✔️ Tratamento: Capsulorrafia lateral, ajuste do plano muscular e troca de implante.
O implante desce abaixo do sulco inframamário original, fazendo com que o polo inferior da mama pareça excessivamente longo e o mamilo posicionado muito alto em relação ao implante.
✔️ Tratamento: Elevar o implante e recriar um sulco inframamário bem definido através de capsulorrafia inferior, reforço do sulco e ajuste do plano.
O tecido mamário (glândula e pele) “escorrega” ou cai sobre o implante, que permanece em sua posição (geralmente submuscular e relativamente alta). Isso cria uma aparência de degrau ou dupla bolha no polo inferior.
✔️ Tratamento: Correção da ptose do tecido mamário através de mastopexia, ajuste do plano do implante e lipoenxertia para suavizar a transição.
A ptose mamária, ou queda da mama, é caracterizada pela descida do complexo aréolo-papilar e do tecido glandular em relação ao sulco inframamário. A ptose pode se desenvolver ou recorrer após a cirurgia inicial, constituindo uma ptose secundária. Causas:
➡️ Perda progressiva da elasticidade da pele devido ao envelhecimento
➡️ Variações de peso significativas
➡️ Gravidez e amamentação
➡️ Gravidade e peso do implante
➡️ Implantes muito grandes ou pesados
O tratamento invariavelmente envolve uma mastopexia (lifting mamário) associada à troca ou reposicionamento dos implantes:
✔️ Mastopexia: Remoção do excesso de pele e reposicionamento do complexo aréolo-papilar
✔️ Troca ou Manutenção do Implante: Dependendo do desejo em relação ao volume
✔️ Ajuste do Plano: Pode ser mantido ou alterado conforme avaliação
✔️ Reforço do Sulco Inframamário: Para garantir o suporte adequado
A ruptura do implante mamário, embora não seja extremamente comum com os dispositivos modernos, é uma complicação possível e uma indicação clara para mamoplastia secundária.
Tipos de Ruptura:
➡️ Ruptura Intracapsular: O invólucro se rompe, mas o gel de silicone permanece contido dentro da cápsula fibrosa. Muitas vezes são “silenciosas” e só detectadas por exames de imagem.
➡️ Ruptura Extracapsular: O invólucro se rompe e o gel de silicone extravasa para fora da cápsula, podendo migrar para os tecidos adjacentes. Este tipo é mais propenso a causar sintomas.
O tratamento é sempre cirúrgico:
✔️ Remoção do Implante Rompido
✔️ Capsulectomia: Remoção da cápsula fibrosa (especialmente em rupturas extracapsulares)
✔️ Lavagem Cuidadosa da Loja: Para remover resíduos de silicone
✔️ Troca por Novo Implante: Na maioria dos casos, se as condições locais forem favoráveis
É importante que você realize acompanhamento regular com seu cirurgião plástico e exames de imagem periódicos para monitorar a integridade dos implantes.
Alterações na forma da mama reconstruída são frequentes, incluindo deformidades como:
➡️ Bottoming out: Implante desce, apagando o sulco inframamário
➡️ Double bubble: Duplo contorno inferior
➡️ Mama tubular/constrita: Forma excessivamente arredondada no polo superior
A correção é cirúrgica e específica para cada deformidade:
✔️ Recriação do sulco com reforço (capsulorrafia) para bottoming out
✔️ Liberação de constrições e ajuste da loja para double bubble ou mama constrita
✔️ Suavização do polo superior com troca de implante, mudança para pré-peitoral ou lipoenxertia
O objetivo é restaurar uma forma mais anatômica e natural.
Além das complicações diretamente relacionadas aos implantes ou à posição da mama, a mamoplastia secundária também pode ser uma oportunidade para abordar alterações de contorno adjacentes. Um exemplo comum é a presença de volume excessivo na região axilar, popularmente conhecido como “gordura axilar”.
✔️ Lipoaspiração Axilar: Se o volume for predominantemente gordura localizada
✔️ Combinação com Mamoplastia/Mastopexia: Permite uma abordagem mais abrangente para otimizar o resultado estético global.
A mamoplastia secundária para troca de prótese é um procedimento complexo e desafiador, mas que oferece soluções eficazes para uma ampla gama de complicações e insatisfações que podem surgir após uma cirurgia mamária primária com implantes.
A compreensão detalhada das características de cada alteração e das diversas opções terapêuticas disponíveis é fundamental tanto para o cirurgião plástico quanto para você. A escolha da abordagem correta, muitas vezes combinando diferentes técnicas como troca de implantes, mastopexia, capsulectomia, mudança de plano e lipoenxertia, é crucial para otimizar os resultados estéticos e funcionais, restaurando a harmonia das mamas e atendendo às suas expectativas.
É essencial que você tenha expectativas realistas e compreenda que, embora o objetivo seja melhorar significativamente a condição prévia, a cirurgia de revisão pode envolver tempos de recuperação e riscos inerentes, e nem sempre é possível alcançar a perfeição absoluta.
A comunicação aberta e honesta com um cirurgião plástico experiente e qualificado é o primeiro passo para um planejamento bem-sucedido e para alcançar um resultado satisfatório e duradouro, melhorando a qualidade de vida e a autoconfiança. e a autoestima nessa nova fase.
Ficou com alguma dúvida?
A consulta presencial é fundamental para a criteriosa avaliação global do procedimento a ser realizado conforme a orientação do CFM e da SBCP. Converse com o seu cirurgião plástico de confiança. Somente um profissional habilitado pode indicar quais são as opções mais adequadas para você.
Dr. Eduardo Antônio Dalberto (CRM 31347/RS . RQE 26266)
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

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